terça-feira, outubro 23, 2007

Tenho saudade da Belém que não conheci


Belém é linda. Maior cidade do mundo na linha do Equador. É também a maior Metropole da Amazonia Legal. Mas meu amor por ela é muito maior do que qualquer geografia.
Banhada pelo rio Guamá, Em seus quase 400 anos de história, Belém vivenciou momentos de plenitude como o período áureo da borracha, no início do século XX, quando o município recebeu inúmeras famílias européias, o que veio a influenciar grandemente a arquitetura de suas edificações.
Antonio Lemos, foi buscar na França, centro irradiador da cultura mundial, os fundamentos para o seu plano de modernização. Paris acabara de passar por uma profunda reforma empreendida pelo urbanista Haussmann, que se cercara de um grupo de colaboradores de alta qualidade.
Walter Pinto Afirma que “O urbanismo de Haussmann caracterizou-se pela criação de uma vasta rede de grandes artérias que cortam indistintamente Paris, por bairros centrais e zonas periféricas. Paralelamente adota-se uma política ativa em matéria de serviços públicos com sistema viário, rede de esgoto, distribuição de água e gás, mercados cobertos, feiras, estações, hospitais, espaços verdes, entre outros elementos".
Alguns dizem que o espaço urbano definido na administração de Lemos, continua inalterado, e que a sua maior contribuição a Belém foi, sem dúvida, a formatação do espaço físico, a planta da cidade, de 1905.
Belém era inspecionada diariamente, seus locais públicos, praças, e bosques. Também sob influência do urbanismo de Haussmann, Antonio Lemos se valeu de um Código de Postura que impunha à população normas para a construção de novos prédios.

Nossas saudosas calçadas foram projetadas com mais de quatro metros, e todas niveladas. Hoje deparamo-nos com uma Belém carente de calçadas, e visivelmente ausente na retomada deste bem público. Fato comum é vermos construções de casas à frente dos postes públicos, quer dizer, ausência básica da gestão, ou talvez desconhecimento da importância desta, que após algum tempo, ficará somente na história.
Vivemos hoje, o que eu chamaria de causa e efeito. Calcadas desniveladas, sem qualquer continuidade, estreitas e muitas vezes ausentes. Como efeito, a população anda no meio da rua, e mais efeito ainda é o numero excessivo de acidentes com pedestres sendo vitimas.
Como causa, temos a cidade suja, fedorenta para quem caminha por ela. E o resultado são esgotos transbordando, ruas alagadas e lixo em toda parte.
A falta de sinalização deixa até quem mora por aqui, enrolado com as vias. Não conheço cidade mais mal sinalizada que esta. O produto disso se dá quando observamos o número grandioso de engarrafamento sem explicações.
Belém está sofrendo hoje, o que meu Sábio Pai chama de um processo de “favelização”. Ruas sujas, Novas construções desprezam a existência de árvores no local, e, além não plantá-las, as existentes são cortadas. A construção de muros excessivos, ora pela insegurança, ora pela privacidade, também contribui ao processo. É comum vermos muro junto a muro, casas em cima de casas, sem qualquer preocupação ao vento e a estrutura da cidade. Na verdade, nada se preocupam com a função social da propriedade. Quintais entram na memória, Muitos dizem, “para que quintal?” sem saber da enorme importância dele...
Olhando do décimo andar de um prédio, consegue-se observar tristemente tudo isso. Casas imensas surgindo coladas a outras, muros de três a quatros metros... E nenhuma árvore, nenhuma preocupação, o egoísmo e falta de cidadania alastra-se pela cidade...
Por essas, tenho saudade da Belém que não conheci...
Deixo aqui, de falar sobre a violência, fato inconteste e saudoso ainda mais quando ouvimos nossos pais a falar que andavam por Belém a fora sem qualquer preocupação. Esta merece folha única, e tema próprio.

6 comentários:

morenocris disse...

Oi, Tom.

Não vou nem entrar no mérito das questões que são tantas e profundas: violência, falta de politicas públicas, etc.

Mas quero falar de "tenho saudade da Belém que não conheci...", ou seja, ter saudade de algo que não se conhece.

E quando isso acontece? Quando imaginamos o que queremos, como queriamos que fosse. Idealizamos.

Belém era um mundo pequeno, singelo e bonito. Hoje é um mundão. E como todo superlativo, expressa profundamente o bem e o mal. Andam sempre juntos, não é verdade? Mas parece que um está se fortalecendo, infelizmente, neste caso, estamos muito "mal"!

Bela reflexão.

Beijos.

Francisco Rocha Junior disse...

Toninho, belo post.
Também tenho saudade, não somente da Belém que não conheci, mas também daquela da minha infância, quando a conhecia aos poucos, nas férias que vinha passar aqui.
Tenho saudade da Belém de um Círio mais tranqüilo, menos quente, com direito à chuva das 2 que hoje não acontece sempre, e nem sempre na mesma hora; da Belém de quando a violência se resumia, muitas vezes, aos "descuidistas", cuja própria qualificação aponta, não raptavam ninguém, nem tornavam pessoas reféns (olha só a que pontos chegamos, tendo que ter saudades de um certo tipo de meliante); da Belém de 500.000 habitantes, quando o mais alto prédio da cidade era o Manuel Pinto da Silva.
A Belém que Antônio Lemos deixou, pensando 50 anos na frente, parou ao final deste lapso. Não houve mais ninguém, depois de Lemos, que a tenha imaginado com olhos projetados para o futuro. Haverá de novo alguém com esta visão, um dia?
Abraços.

Antonio Carlos Monteiro disse...

Olá Cris,

Sabe... no meu caso, não queria um tanto “idealizado”, mas aquela Belém doce, que era de carne e osso anos atrás. E que por aqueles da época sim, foi idealizada, mas a concretização desceu pelo ralo. Antonio Lemos planejou, contudo, seus desejos de ontem, são talvez o que queremos amanhã, e se tornaram os nossos. Mesmo anos depois...

Bem e mal é um pouco maniqueísta, vamos pensar que a sociedade contribuiu para essa situação. Fruto da decadente educação, a falta de investimentos em políticas sociais. O abismo que separa a cultura de algumas pessoas, a má formação básica do discente, o desprezo por bens públicos e patrimônios nacionais, a excessiva miséria, e etc.

Bejios !

Anônimo disse...

Toninho,
Na semana passada a TV Cultura apresentou no programa "VARADOURO", uma reflexão dos bons técnicos da terra, sobre os problemas da metrópole belemense. Foi muito bom o programa. O programa foi um dos melhores que vi até hoje sobre Belém. Retratou boa parte do que colocaste no poster.
O programa reportou que a crescente população urbana seja a maior causa de todos os problemas. Nesta parte eu não concordo, acho que é um dos grandes problemas, mas o maior é a falta de planejamento dos admnistradores púbicos e de educação da população, que não aprendeu a viver na zona urbana.

beijo, do teu pai.

Antonio carlos de andrade monteiro

Antonio Carlos Monteiro disse...

Fale Francisco,

Tens o privilégio de falar um pouco da Belém que não conheci, és novo ainda, apesar de mais velho que eu.
A chuva das duas eu peguei, lembro que quando eu chegava do colégio almoçava, e esperava ansioso a chuva passar, porque o horário da bola lá em baixo era depois da chuva. Hehehehe. Bacana né?
Na minha infância Belém ainda era bem mais tranqüila, morava na cidade velha, e sempre andava sozinho e bem despreocupado, não sei se por ser irresponsável não me preocupava com o perigo, sei que hoje, tenho medo de sair a pé em qualquer esquina...

Antonio Lemos impôs muita coisa a população, era considerado Autoritarista, decerto era, mas precisava disso para conter a revolta de alguns que não entendiam sua visão.
Hoje é mais difícil isto acontecer, com uma sociedade que tudo pode, tendo dinheiro então, pode mais... E a província regressa a Terrinha.
O fato é que precisamos ser educados, respeitar o que não é nosso, mas de todos. Parar de pensar no próprio bico, e atuar pensando no geral. Não jogar lixo nas ruas, cuidar de nossas calçadas, plantar cada vez mais, ser razoável no trânsito e fomentar melhorias pra si, sempre pensando um pouco no social, pois é como vivemos.
Quiçá consigamos à frente um bom gestor...

Abraços

Antonio Carlos Monteiro disse...

Oi Pai,

Poxa, queria ter visto... Tenho assistido pouco a televisão esses dias...

Vejo o seguinte, todos fazemos parte disto, então contribuímos ou não para que isso acontecesse.

Acho que seria uma junção das duas opiniões. É fato notório o descaso dos nossos administradores, é até indiscutível. No entanto, a população pode fazer a sua parte, que é a base para o futuro...


Beijos!