quarta-feira, março 12, 2008

Olhos torrenciais

Em meio a um dilúvio, entrei sem pestanejar no botequim cinzento. Lá fora o vento batia na porta junto à chuva caudalosa e, de dentro do botequim gris e pardo eu os observava com um olhar nostálgico típico de calamidade. Mas então, quando desviei os olhos fixos as torrentes, percebi um olhar para mim. Pensava que olhava pela primeira vez. Virei o globo ocular novamente a chuva e, foi quando senti, sobre o ombro, nas minhas costas, seu escorregadio e oleoso olhar. Então compreendi que era eu quem a olhava pela primeira vez.
Acendi um cigarro. Traguei a fumaça áspera e substanciosa a fim de burlar meu indiscreto desejo de saber... Eu, escondendo-me por de trás de um tabaco às mãos, fixo, olhando-a. Ela, sentada no balcão do bar, me olhando e observando minhas pálpebras iluminantes em sua direção. Durante breves minutos não fizemos nada mais que isto: olhar-nos. Foi então que deslizei sobre ela, quando lhe disse, com respiros de alcatrão: “olhos torrenciais”. Ela me disse, no instante que descruzava as pernas: “Isso. Olhos. Já não o esqueceremos nunca...”. E saiu além dos limites da órbita ocular suspirando: “Olhos torrenciais”. Escrevi isso por todas as partes...

2 comentários:

morenocris disse...

Hhhuuummm..eu também achei isto, sabias?...garoto esperto...adorei!

Ai.ai.ai...sinto que o dia de hoje será maravilhoso... rsrs...

Beijinhos.

morenocris disse...

Adorei a foto nova. Você está no crisblogando. Obrigada. Ter-te por perto é uma benção!

Beijos.
Bom dia da Poesia.

Tom, coloca música, vai!

Ah, e poesias tb!.. rsrs..sou chata, não?