William Waack, no Blog do G1.
Não dá para se falar de Fidel como se fosse um morto, ainda que as idéias que ele defende tenham sido sepultadas em quase todas as partes do mundo. O comandante em chefe deixa de comandar mas, conforme escreve, continuará sendo ouvido.
Lembro-me de algumas ocasiões nas quais estive, como jornalista, nas cercanias de Fidel. Uma das mais divertidas foi durante uma conferência de cúpula ibero-americana em Oporto, Portugal. Fidel passava carrancudo pelo bolo dos jornalistas quando foi avisado por nós, repórteres, que o ditador Pinochet acabara de ser confinado à prisão domiciliar enquanto visitava a Inglaterra.
El comandante parou, virou-se para nós com um sorriso maroto e disse: “pero esto, sí, me interesa”. Nem ele disfarçou o motivo: se a moda de mandar prender ditador latinoamericano em viagem pega….
Como enviado especial a Berlim Oriental estava no camarote da imprensa dentro do Palácio do Povo, em outubro de 1989 – o último grande encontro de todos os líderes comunistas amigos da então URSS. Menos de três anos depois, estavam todos fora da foto – menos Fidel.
Sobreviveu ao maior coveiro de regimes socialistas na História recente, o Papa João Paulo II. Em visita ao Vaticano, Fidel não se importou nem um pouco em posar para a célebre pintura do Juízo Final. Sua frase mais famosa foi pronunciada ainda antes de tomar o poder em Cuba: “a História me absolverá”.
Dificilmente Fidel escapará de um julgamento bastante duro. O teste é saber que capacidade o regime cubano terá de sobreviver a quem o criou e conduziu com mão de ferro. Se a História nos ensina qualquer coisa, os exemplos a mão são contundentes. Nenhum dos regimes socialistas (a Coréia do Norte é a exceção) sobreviveu a seus criadores.
Da mesma maneira, nenhum regime socialista “reformou-se” e continuou socialista (a China que o diga). As transições parecem ter sido ditadas a) pelo tipo de sistema que o país da órbita soviética vivia antes de ter sido sovietizado; b) por cultura e religião. A regra é simples, mas ajuda em boa parte a entender os caminhos que foram tomados pelas ex-repúblicas soviéticas na Europa do leste, por exemplo, ou na Ásia Central (ou no Cáucaso).
Fidel conduziu até o ponto de quase ruptura um regime derrotado pela História. Para mim, justificar a repressão a idéias ou opiniões dissidentes com base nos avanços sociais é absolutamente inaceitável. Nossos princípios, especialmente os de direitos humanos, têm de ter aplicação universal. Caso contrário, não são princípios.
Da mesma maneira, é possível entender quais circunstâncias (especialmente a burrice de seguidas administrações americanas) levaram Fidel a percorrer os caminhos de seu socialismo de um homem só. Mas “o embargo”, “as conspirações da CIA” não servem mais, hoje, para tornar simpático um regime interessado apenas na própria sobrevivência.
Sem dúvida Fidel fez História. E foi derrotado por ela.
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