sexta-feira, maio 30, 2008

Filme


O “ensaio sobre a cegueira”, do diretor Fernando Meirelles, filme escolhido para abertura da programação, foi recheado de críticas no festival de Cannes, considerado o mais importante da sétima arte. O próprio diretor afirmou que “Blindness” “É um filme indigesto para preceder um jantar”. De fato, assistir os personagens um a um ficando cego misteriosamente e depois suportar a inundação de eventos que reduzem a humanidade às necessidades mais básicas não deve ser fácil, ainda mais de digerir.

O ponto mais batido pelos avaliadores foi referente a intensidade do filme que continha grandes quantidades de violência sexual, muito longas, um filme muito forte e difícil de assistir, disseram eles. A meu ver, trata-se de um falso moralismo achar que cenas de estupro devem ser reputadas, mas, e, no entanto, outras películas podem ter cenas de morte bizarras, assassinatos cruéis, brigas policiais urbanas, guerras sangrentas e desumanas, seriais killers fazendo todo tipo de barbaridade que, além de não passar nenhuma mensagem, servem de inspiração para alguns adolescentes destemperados... Mas não! Isso pode, tudo em prol da realidade, perfeição e blá blá blá...

Quem assistiu vai lembrar de um excelente e polêmico filme do Franco-argentino Garpar Noé, “Irreversível”, que por causa das cenas pesadas de sexo e estupro, ganharam as manchetes dos jornais na estréia do filme no Festival de Cannes, com direito a notícias de espectadores desmaiando, vomitando ou simplesmente saindo da sala. Porém, o filme apresentou um excelente trabalho de edição, direção e imagem. E além de ser indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, ganhou o prêmio cavalo de bronze no festival de cinema de Estocolmo.
No livro, Saramago conseguiu com muita habilidade relacionar os personagens sem dar nomes a eles, burlando está “insuficiência” com primor. No filme, isso não deve ter sido fácil, pois a imaginação é produto das reproduções que irão aparecer e, digam-se, todas rapidamente, devendo ser completo “no despertar dos olhos” para que o público consiga compreender cada tomada de reflexão que o longa despertar. Tarefa difícil, essa. Na literatura a mente é quem produz as imagens que, apesar de muito bem descritas, são obra da nossa imaginação, e ainda temos o tempo a nosso favor, no cinema não.

Vale ressaltar que não estou aqui querendo fazer paralelo do filme com a obra de Saramago que, particularmente, é livro dileto, além de impressionante, comovente, um marco na literatura mundial. Quero tão-somente definir alguns percalços e obstáculos que o longa passa para ser produzido, ainda mais com a responsabilidade de ser um homônimo da obra de um gênio da literatura.
Vamos esperar atentos, pra ver... o livro diz " se poder olhar, vê. Se podes ver, repara". Muito boa sorte ao filme.

2 comentários:

morenocris disse...

Caramba, que legal. Você voltou com tudo. Parabéns!

Beijos, Tom.

Bom final de semana.

Antonio Carlos Monteiro disse...

Beijos Cris,

pra você também.