quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Acompanhante das inúmeras escrevinhações de Saramago, e, por tempos que subsistem até hoje, aprendiz de sua absoluta disciplina, devoção e dedicação ao ato da escrita, instruir-me neste ensejo que a Paisagem é um estado de alma. Posto em palavras comuns, quer dizer que a marca causada pela meditação de uma paisagem estará subordinada as variações do caráter emotivo, mais precisamente do humor jovial ou atrabilioso que estiverem atuando dentro de nós no preciso instante em que a tivermos diante dos olhos. Conjetura-se para muitos, em vista disso, que o lance de vista numa extensão de território, gêneros de pinturas, descrições de cenas campestres, entre outras formas, é domínio exclusivo dos adultos, pessoas que já sabem “definir” ou minudenciar as coisas.
Tudo isso, é um fato incontestável se realmente olvidamos quem fomos um dia, se desprezamos o período lúdico e ingênito da adolescência, muitas vezes assombrosa, mas inegavelmente conservada na reminiscência. Falamos aqui, da faculdade de conservar e produzir as idéias, imagens marcantes e até conhecimentos anteriormente adquiridos. A lembrança de qualquer coisa ou alguém e suas aptidões para recordar especialmente certas coisas.
Ninguém perguntou ao menino, o que ele achava ao assistir o pôr-do-sol numa linda tarde na bucólica mosqueiro. A este adolescente, ninguém lhe perguntou que tal sentia na tarde que seria, talvez, uma das mais marcantes paisagens que este olho infantil apreciava. E também quais impressões recebia quando, já saído de todo o sol, a noite apresentava diante dos olhos, uma nova forma de paisagem... E só muito mais tarde, muitos anos depois, viria a renascer, e este adolescente compreender, antes de mais nada, as suas pequenas memórias...


Ao meu irmao, Alexandre Monteiro.